A Odisséia de Um
O texto que ora escrevo pretende, a um só tempo, ter um caráter íntimo e universal, já que aquilo que apavora um homem apavora todos. Direi: sou todos os homens e sou ninguém. Filho, irmão, pai e, espero que algum dia, avô. Nada sei dos outros homens, mas, posto que somos todos um, sei o que me foi dado saber sobre os outros; nada além!
Limei asperezas, risquei sentimentalismos e sobressaltos, mas não me isentei de sofrer pela dor da humanidade! Jamais quis ser mais do que sou; não tenho ambições. Não tenho pátria. Não tenho saberes reprimidos - aqueles que ficam em stand by a espera de um lócus de ação irrefletida.
Meu objetivo não é obscurecer o texto, mas como evitá-lo se em mim ecoam os gritos de toda uma geração, de todas as gerações, de todas as humanidades possíveis... E as impossíveis também!
Perigosamente espero uma ponte com algum interlocutor, alguém que sofra, como eu, as dores do mundo.
“ Não, meu coração não é maior que o mundo, é muito menor; nele não cabem nem as minhas dores.” Carlos Drmmond de Andrade não é uma solução, mas é um consolo: há outros como eu. Há outros que não dormem porque sentem que lhes falta o chão sob os pés, outros, que lhes falta coragem para arregimentar emoções em busca do sem fim, em busca de seu próprio eu interior, em busca do Nada e do Tudo, sem metafísica ou conclusões possíveis.
Temo não ser bem compreendido, embora não desista facilmente. No fundo isso tudo é mentira! Não há importância em não ser compreendido. Não há, de fato, compreensão possível entre os homens. Na verdade, eles se desentendem como forma de conhecerem-se mutuamente.
Não sou sartreano, mas reconheço as fronteiras que me fazem esbarrar na esfinge dos outros sem conseguir ultrapassar seus limites. A esfinge devora aqueles que não sabem a resposta do enigma. Sei que esse enigma não tem resposta, mas a esfinge não sabe disso e exige resultados. A quem foi dado saber penetrar no mundo dos outros? A quem foi dado retornar ao seu mundo interior, após aventurar-se no universo alheio?
Não bastasse o universo dos outros ser tão distante, ainda esperam de nós uma bela performance social। É uma questão de representar, no palco da vida, o papel que nos cabe a cada cena, a cada abrir de cortinas, a cada pedido de bis da platéia, a cada texto mal decorado, a cada tropeço na interpretação desse papel.
Ricardo Seixas
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